Em 15 de outubro de 2011 10:57, Daniel Bosi
bom e velho amigo,
tive um sonho muito estranho hoje.
muito místico, complexo, cheio de enigmas herméticos, lembranças vividas e não vividas, ou esquecidas. elaborei um pequeno texto tentando te ilustrar o que senti. espero do fundo do coração que você goste e que consiga compartilhar pelo menos um pouco do que senti.
esse texto também também é seu. use-o da maneira que lhe convier.
abraços saudosos,
Daniel Bosi.
eu e vc combinávamos uma viagem. e fomos viajar.
era o chile, mas não era bem o chile. era a argentina, mas não era bem a argentina.
era como se estivéssemos no lugar onde começa a América Latina. Não era um país nem uma cidade, era um lugar onde todas as direções latinoamericanas encontravam-se.
era o ponto de encontro onde não haviam fronteiras, nem barragens. Não haviam países mapeados nem barreiras da natureza. Os andes não podiam nos parar, os desertos não podiam nos parar, as florestas não podiam nos parar. e nunca um lugar foi tão latinoamericano. era como caminhar sobre as direções que nos levam ao caminho de casa.
estávamos vestidos com túnicas, que eram uma mistura de trajes árabes e capas andinas. Tínhamos as barbas grandes e negras. caminhávamos sobre um local que não conseguíamos nomear, mas sabíamos que aquilo era a mescla do que foi e do que é - a América Latina que vive em nossa lembrança.
Ríamos e conversávamos. Calculamos que em um dia e uma noite de caminhada pelo chão de terra, chegaríamos ao lugar que não conseguíamos nomear.
Era como caminhar sobre as direções. e as direções sempre nos levava ao mesmo lugar, e por incrível que pareça, mesmo sabendo disso, estávamos felizes e satisfeitos, pois tínhamos a certeza de que o lugar a chegar não fazia nenhuma diferença. Nosso objetivo era caminhar sobre as direções latinoamericanas e nada mais importava.
Era uma dimensão secreta, não havia dúvidas. Um lugar sem mapa impresso, apenas digitalizado no interior de nossa sede de estarmos libertos de tudo. Um mapa que vive para sempre dentro de nós. Um mapa onde o único norte é o nosso senso de liberdade e nosso poder de querer viver e querer amar.
Podíamos sentir o segredo que as pedras contavam com seus lábios invisíveis. Recheados de histórias, dos tempos mais incrivelmente antigos. Cidades que existiram, cidade que ainda estão por vir. Concluímos que muitos dos que estudam este lugar, pouco sabem sobre ele. Só as pedras e a terra possuem memória. A verdadeira memória. Aquela que não podemos lembrar, só sentir. A terra é o maior exemplo de humildade que existe. A chuva vem para fazer o sangue que se derramou por cima da terra, entrar. E se acoplar na memória de terra. e se juntar ao fogo. e do fogo, criar lava. E da lava, criar pedras, e por esse motivo que as pedras armazenam a história da terra, a história dos mundos. toda a lágrima, todo o suor, todo o sangue, todo a bestialidade, todo o amor.
a América atual, a América antiga. Uma coisa só. 500 anos atrás. 1000 anos atrás. 1000 anos na frente.
o sonho acabou antes de chegarmos ao nosso objetivo, e foi ao acordar que percebemos que o objetivo era apenas viver.
aqui é a soma de todas as coisas.
