Era um breve chá de hibisco,
Era eu, era você e eram três passarinhos cantando.
Era um canarinho misturado
com uma rolinha e um beija-flor
Era um som, um sino dos ventos de madeira
Era a espiral do tempo rodando a casa inteira
Era a hora passando tão ligeira
Era eu dilatando, o ar e seu rodopio,
O vento na barreira, na pele permeia
A vontade de sonho, o medo do frio
Como cego que a roseira tateia
segue o fio, fugindo do corte
Na língua da sorte, precisa ser forte
pra cantar tão alto quanto a sereia.
Era eu viajando em cada piscada
Era eu contando, quantas milhões de palavras cabem
em cada milésimo de silêncio.
Eram os teus olhos como faíscas
Era uma luz como uma isca
Era a ponta dos meus dedos, procurando os teus ventos
Era eu seguindo os teus movimentos
Como vagalume hipnotizado
Pela fogueira no escuro
Era eu sendo imantado
Atraído por um futuro
Era uma travessia
Uma energia
Uma estrela brilhando de dia
Era tanta coisa na mente,
Que busquei os sinais de uma linguagem fluente
Encontrei no contraste, amavelmente
Algo entre o mate e o chocolate quente
Era eu beijando a xícara
Era você olhando o céu
Era eu tentando pisar no chão, mas sem conseguir.
Era você explicando, do que lhe era sagrado, de uma forma passiva.
Era eu tentando disfarçar
Que agora a xícara conhecia, a nossa saliva
Era eu comentando
Das arquiteturas do ser humano
Dos sentidos de uma casa antiga
Era uma árvore cantalorando,
em forma de sombra, uma velha cantiga
Era eu fogo, me tornando brisa
Era você fada, emanando brasa
Era você falando em neve
Era eu pensando em fogo
Era eu segurando um desejo
Mentalmente compondo um solfejo
Era eu relativizando
Sobre um vulcão coberto de neve
E um coração querendo um beijo
Era o teu magnetismo
Era eu adormecendo no colo da tua lua
Era eu soltando verbos
e os meus descuidos com a elipse
Era o meu sol se abrandando
Com as previsões de um eclipse
Era uma vista de telhado e de céu
Era uma prosa detalhada em pintar
impressões de muitas facetas;
Tinha o vermelho, na bochecha e no chá,
Na pele, o sândalo,
no pássaro, o pio
No olho, o pêndulo.
Minhas tímidas frases, quase caretas
Meus olhos estáticos tão fascinados
Pelos teus cílios de borboletas.
Era a tua porta
Era a minha chave
Era o teu universo
Era a minha nave
