domingo, 6 de outubro de 2013

Sobre o nível do mar

Hoje pensei no nível do mar que sobe,
E nos estudiosos que dizem, isso não deveria
acontecer.

Ando preocupado com essas coisas que não deveriam acontecer.
Porque são coisas que não tenho controle.
São coisas que eu não deveria mexer.
Mas estou quieto no meu canto, não mexo com nada;
Mas é o nada que vem mexer comigo.

O nível do mar foi subindo, subindo,
E eu te olhando, olhando,
E os cientistas dizendo, dizendo,  até 2020 tudo vai subir,
Que é pra ter cuidado.

Por que o mar não derrama? É claro que derrama.  
Quando o nível começa a subir, é que a água derrama,
descontroladamente.

Quando a água derrama, meu peito é areia.
Que derrete e afunda, Se acopla e se funde,
Com tanta vastidão, água, sal, espuma.
O mar habita na areia e a areia habita no mar.

Não há ciência que me explique,

Eu olho dentro dos seus olhos e o meu nível sobe.




terça-feira, 10 de setembro de 2013


canção do vento II  (vayú vayú vayú – do livro Canções do Vento)

espalha,
como pétalas
ao léu.
Chama o vento por um assobio

Invoca,
o silfo que vive no alto
e do alto
veja o sorriso desenhado
na nuvem.

Vento, de onde vem tu?
Vento, tu vem?
De onde vem tu, vento?
Tu vem, vem tu?

Vento noroeste, vem!
Toca as flautas
Toca o teto do mundo
Empurra as velas dos barcos
voavoavoa espalha-teespalha-teespalha-te
chegachegachega
vaivaivai
vayú vayú vayú       [vento, de onde vem tu?
              

sábado, 17 de agosto de 2013

Vou pegar a argamassa dos meus escritos, e construir meu Taj Mahal.
Vai ter festa com muita música.
Do Google Moon meu Taj Mahal será visto;
Do Google Moon será ouvida a playlist da música sem gravidade.


domingo, 21 de julho de 2013

au cœur de la flore


tão complexas as estações que passam,
sempre anunciam uma nova era
pois é atravessando um longo inverno  
que se chega à primavera.

mas era essa, a estação que abriga
suas madeiras e suas folhas
para não florear perto de mim, você então se escondia.
Porém eu te encontrava,
atrás do alfaiate que lhe fez bonitas vestes
toda a camuflagem um dia surge
da tristeza dos velhos ciprestes;
o centro da floresta que urge
bradando cálidos cantos silvestres.

De um outono que trouxe à tona,
as frutas de uma árvore oculta
em silêncio também chorava,
a queda de suas folhagens.

Aguardei, vi o sol chegar
esquentar as tuas ramagens,
Para deixa-la bem macia,
O sol então, acaricia,
Todo o caule do alecrim,
como lírios selvagens inebriados
Pelo cheiro doce da flor de jasmim.

São como camomilas recém-colhidas
Unidas a uma fresca flor-de-baunilha,
Banhadas em puro mel de abelha,
Como néctar que escorre
d’um riacho que se assemelha,
desagua no lago que espalha,
a luz que decerto te espelha.

Vênus, pátria das abelhas
me abriu um sorriso largo
estava feliz porque sabia
suas filhas extrairiam
o sumo de  todas as flores,
que transformam a lágrima salgada
em serenos rios de água doce.

e mesmo que estivessem geladas
por um resquício da friagem
as abelhas aguentam, e seguem viagem,

molhada por obra de fortes chuvas,
a abelha sempre enfrenta
o nível de toda situação
para fazer o seu mesclado                                                               
à todos os cheiros se atenta,

procura calêndulas e melissas,
dálias e rosas sem espinho,
e por cada dia da estação,
também recolhe no caminho,
alguns dentes-de-leão.

Eu pude ver a cor da voz
Cada som assim mostrava
um lábio coberto, um gosto incerto
suavemente aveludava
na avelã e no mel
casados com outros gostos,
que lembravam as frutas vermelhas
sei que aqui habitam abelhas
que arquitetam as suas casas;

a colmeia é arte sacra,
na forma do moinho de vento,
para que o pólen se propague
o moinho toma coragem
de superar um cata-vento 

a luz opaca da aurora,
revela os versos que eu fiz;
no coração da flora, mora

o segredo da flor-de-lis.                                                       

segunda-feira, 24 de junho de 2013

      


                               Aderir à revolta climática
                             Aderir à fumaça beber chuva ácida
                           Azia temporal, o interior    queima.






sábado, 1 de junho de 2013

CALMARIA





Calma.
Furtivo sentimento deixa – alma.
Voa. Estranho pensamento – sabe Assobio na poeira – lábios.
Sussurro, sobe, Ressoa.

A voz de um silêncio – cala.
Joelho bate em pedra, voz que destroça e ralha
implacável que nem água - toda a água do mundo escorre, Escoa.

a voz que desce a rua e contorna, ladeiras e labirintos, abismos e feridas]
pelas cidadelas a água passa [curva serpente oculta ciranda circunda íngreme
por muros as raízes descem -  avistam homens pisoteando árvores [dança de calcanhares
orvalho morto caules rachados a vida brota não sei de onde [nem todo eco é lógico

e cavalgam e cavalgam mais outros homens, montados nas sombras do dia,
montados nas luzes da noite [e criam reluzes deslumbres que lembram o ouro
e cavalgam sobre as cinzas e cavalgam sobre todas as coisas, abafam todos os barulhos
estalam estáticos os sons elásticos, mentirosos como os nossos grifos
pré-maturam os primeiros gritos [a dor dos gigantes esquecidos

quando inventaram um calor de vento
então deram nomes às estações do tempo
sentindo os frios que no rosto sabem arder
queimando o coração que a guerra há de comer
rebate salpica a pele - gotas de sangue e de prana
a tempestade dispara o ciclo e a calmaria inflama
a superfície da terra que um dia era plana.




domingo, 21 de abril de 2013

de um tipo de Infância


Então aí eu escreveria uma coisa bem bonitinha, mas chega de beijos porque nasci de cólera. Então eu nasci e minha mãe gostava do John travolta. Meu pai sempre curtiu led zeppelin e eu chorava quando brigava com meu irmão. Minha mãe me apresentou a ópera tommy. meu pai chegava tarde do trabalho. Dizia que bebia porque tinha que puxar o saco do chefe. Minha mãe jogava tarô e meu pai brincava de caratê comigo. Eu tinha um playground com latas de lixo. Eu pintava de azul a parede e gritava que eu tinha um sino da liberdade. Eu não sabia quem era a liberdade por mais estranho que se possa falar nisso. Eu tinha um amigo que queria ser o Lex Luthor. Eu nunca quis ser o Super-Homem. Mas confesso que já quis ter o cabelo dele. Eu me assumo: eu tinha gel NY looks. No outro lado tinha uma mulher de bigode que varria a casa. Eu só a vi uma vez. Ela nunca sorria. Talvez porque tinha bigode. No asfalto pintavam o He-man para as festas de fim de ano. Mais tarde tinha o Pepsinho e o amarelinho, mascotes da copa do mundo. Tipo nove horas da manhã: vi silfo detrás da montanha que de lá vinha bala. Feria cadeira feria coragem, silfo dava luz. eu não sou mentiroso de seis anos. Meu pai é comerciante capixaba, minha mãe, psicóloga carioca. quem sou eu? -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------