sexta-feira, 18 de novembro de 2011

i tempestari

tempestuosos dias em que nuvens encobrem copas
e das copas escuras se refletem as sombras no chão.

o chão é onde caminho quando chove e não quero esperar a chuva passar
porque eu gosto da chuva]

escuro entre o chão e o alto daquelas árvores
entre mim e mediar a escuridão
a velha discussão sobre os limites das coisas
[debates de cores frias



sonho o gosto de roubar a chuva, eu falo de possibilidades,
de compra e venda dos créditos d'água: eu engano as tempestades
porque agora a tempestade sou eu
[é sempre aqui dentro que chove

tempestuosos dias em que nuvens encobrem copas
é como se o negativo do filme revelasse (o comportamento dos cheiros)
água em formato de chuva
desce e escorre
no seio da terra,
no colo da pedra
na face do homem,
para se transformar em outros formatos
ditar as regras das cores
evoluir a cadência das gotas
[a água volta a ter cheiro de água.

não vou esperar meu sonho acabar,
não sei se posso beber meu sonho durante a chuva.

eu não vou plantar, não vou molhar colheitas,
eu nunca espero uma estação terminar, eu possuo a tempestade.

vou a uma outra aldeia, uma que ninguém conheça minha fama de
tempestuoso.
[é que eu gosto de chuva









quarta-feira, 26 de outubro de 2011

caminhar sobre as direções


Em 15 de outubro de 2011 10:57, Daniel Bosi escreveu:


bom e velho amigo,
tive um sonho muito estranho hoje.
muito místico, complexo, cheio de enigmas herméticos, lembranças vividas e não vividas, ou esquecidas. elaborei um pequeno texto tentando te ilustrar o que senti. espero do fundo do coração que você goste e que consiga compartilhar pelo menos um pouco do que senti.
esse texto também também é seu. use-o da maneira que lhe convier.
abraços saudosos,
Daniel Bosi.


eu e vc combinávamos uma viagem. e fomos viajar.

era o chile, mas não era bem o chile. era a argentina, mas não era bem a argentina.
era como se estivéssemos no lugar onde começa a América Latina. Não era um país nem uma cidade, era um lugar onde todas as direções latinoamericanas encontravam-se.

era o ponto de encontro onde não haviam fronteiras, nem barragens. Não haviam países mapeados nem barreiras da natureza. Os andes não podiam nos parar, os desertos não podiam nos parar, as florestas não podiam nos parar. e nunca um lugar foi tão latinoamericano. era como caminhar sobre as direções que nos levam ao caminho de casa.

estávamos vestidos com túnicas, que eram uma mistura de trajes árabes e capas andinas. Tínhamos as barbas grandes e negras. caminhávamos sobre um local que não conseguíamos nomear, mas sabíamos que aquilo era a mescla do que foi e do que é - a América Latina que vive em nossa lembrança.


as regiões interligavam-se. conseguíamos, apenas com o mover do pensamento, enchergar o deserto, as montanhas, a neve, os ventos, as tempestades, os animais e os humanos, e entre todos esses elementos havia o caminho.

Ríamos e conversávamos. Calculamos que em um dia e uma noite de caminhada pelo chão de terra, chegaríamos ao lugar que não conseguíamos nomear.

Era como caminhar sobre as direções. e as direções sempre nos levava ao mesmo lugar, e por incrível que pareça, mesmo sabendo disso, estávamos felizes e satisfeitos, pois tínhamos a certeza de que o lugar a chegar não fazia nenhuma diferença. Nosso objetivo era caminhar sobre as direções latinoamericanas e nada mais importava.

Era uma dimensão secreta, não havia dúvidas. Um lugar sem mapa impresso, apenas digitalizado no interior de nossa sede de estarmos libertos de tudo. Um mapa que vive para sempre dentro de nós. Um mapa onde o único norte é o nosso senso de liberdade e nosso poder de querer viver e querer amar. 


Daqui podíamos enxergar tudo, sem ter o medo do que está longe (ou do que está muito perto).

Podíamos sentir o segredo que as pedras contavam com seus lábios invisíveis. Recheados de histórias, dos tempos mais incrivelmente antigos. Cidades que existiram, cidade que ainda estão por vir. Concluímos que muitos dos que estudam este lugar, pouco sabem sobre ele. Só as pedras e a terra possuem memória. A verdadeira memória. Aquela que não podemos lembrar, só sentir. A terra é o maior exemplo de humildade que existe. A chuva vem para fazer o sangue que se derramou por cima da terra, entrar. E se acoplar na memória de terra. e se juntar ao fogo. e do fogo, criar lava. E da lava, criar pedras, e por esse motivo que as pedras armazenam a história da terra, a história dos mundos. toda a lágrima, todo o suor, todo o sangue, todo a bestialidade, todo o amor.

a América atual, a América antiga. Uma coisa só. 500 anos atrás. 1000 anos atrás. 1000 anos na frente.

o sonho acabou antes de chegarmos ao nosso objetivo, e foi ao acordar que percebemos que o objetivo era apenas viver.

aqui é a soma de todas as coisas.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

conheci um
peixe

que atravessou um
rio

só pra chegar no mar.



conheci um
rio

que atravessou um
mar

só pra reencontrar um peixe.


a natureza
puxa o peixe pro o que ela quer.

o peixe
não fecha os olhos pra pensar.

natureza é perfeita, peixe não precisa ser.

terça-feira, 7 de junho de 2011

nasce cresce reproduz-se e morre


era ciências, era moderno, era sabedoria ou inteligência, era o quê?
"o homem nasce, cresce, reproduz-se e morre"
se fosse ciência mística, fosse cabalística, ciência crística ou gnóstica estaria eu em melhores lençóis.

a mulher que mordeu a língua enquanto falava mal
torceu o nervo que interligava
o último aluno ao primeiro mestre.

Urbi et Orbi, Universum.
nasce cresce reproduz-se e morre,
as inverdades verdadeiras, nas universidades, Vaiam!

pintos ou patos? homens ou ratos?
homens que nadam morrendo. Peixes que morrem nadando.
águas que matam para criar a vida.
água é vida porque se alimenta de morte.

Marte não tem água, logo, não há vida em Marte: assim decretaram os cientistas terráqueos.
Universum Marcianus.
organicidades. humildade úmida. catástrofe. livros queimados. corações partidos. punhos rachados. crianças perdidas.
professores e alunos pantagruélicos cravados numa escola
da Ilha Perdida de Vitória do Espírito Santo.

e entre tudo e todos, entre livros e amigos, animais e segredos segregavam vidas
animam escondidos
memórias presas no céu do canto da boca.

nasci, cresci, reproduzi-me e matei-me.


quinta-feira, 19 de maio de 2011

FLAUTINANDO

a flauta torta que toca,
faz música diferente

o som chega e se instala
gostosa reviravolta
no seu ouvido outrora triste

a flauta que chega e te bate
pra você virar e olhar
dança lá dentro bem dentro
aonde ninguém pode entrar

o som da flauta quebrada
se arranha pelo mundo astral
nota arranhada flauta quebrada
ouvido que voa
ouvido visceral.

a flauta segura que ela
é mais do que o flautista
porque ela, só ela
é quem na verdade,
te toca a todo tempo

a toada é qualquer sopro que possa fazer
a gente ver tudo pulando sob a luz
amarela-opaca
mas todas as cores vivem e se espalham
se mesclam com as cores fracas e intensas
da luz
do vinho
da blusa dela

a cor do próprio som
é a cor da música sem nome

flauta modernamente contemporânemente experimentalmente transcedentalmente
acidental.

cidades perdidas





para Milton César Pontes

dorme e acorda pensando
em todas as Lamúrias
Pensa dormindo com todas as Lemúrias.

e Ele, que descomemora o próprio luto,
que das cidades perdidas se perdeu

cada homem é uma cidade.
todo homem pensa enquanto a cidade
dorme.

um girassol escondido em sua pele
e ele sonha como os girassóis giram.

a figura velha e nova todas as idades
em apenas dois Olhos e trezentos mundos
(cada cidade é um mundo)

Então, meu irmão,
só sabemos que somos órfãos de
Vênus.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Tudo o que era demais não fazia mal?


hoje dia está
meio bonito
meio frio


hoje chove.
Hoje desagua em nós
A água fria que vem do oceano.

Entre o cabo verde
E o litoral na costa do Brasil.
Hoje também teve terremoto.

Porque a música que corre nas veias desses povos
Foi ouvida pelas placas tectônicas,
E elas resolveram dançar.

Sol e chuva: me batem.
Terremotos de música: batem nas pedras e nas placas.

Bate a claridade no corpo e ele queima.
Bate um escaldante sol, os olhos ardem.

E de repente, tudo bate, e chega a ditadura do bater.
Tudo tem que bater.

Tem que saber receber, amor e desamor.
Aí vem o samba, que maravilha, dizem uns..
Aí vem a micareta, que horror! – dizem outros.
Aí vem rock n’ roll, bando de vagabundos!
Aí vem a polícia, corre!
Aí vem os bandidos, corre!

aí vem o sol escaldante, que bom!
Aí vem o sol escaldante, que ruim!

Lá vem a religião disfarçada de política, ai meu Deus, não!
Muitas coisas vêm, do Brasil até você.
Tem outras que vem também do Brazil com Z.

Mas no fim todos se confundem,
É Brasil, é tropical, é anormal, é Caetano, Jorge Mautner, carnaval.